Por Fábio Cássio Costa Moraes
Existe uma visão míope de que o planejamento é a parte mais importante da estratégia
Quando se fala em pessoas estratégicas, a primeira imagem que surge é de um grupo em uma sala de reuniões desenhando cenários, criando gráficos SWOT ou definindo budget. Sim, definir objetivos e metas é parte importante da estratégia. Mas, ser estratégico é muito mais do que isso.
A estratégia é um fluxo, pois da mesma forma que não podemos avaliar a saúde de um rio olhando apenas um trecho, uma empresa não pode ser priorizada apenas na fase na qual se desenham cenários.
O primeiro grande engano das lideranças que se dizem estratégicas é focar apenas no planejamento. As pessoas de forma geral não gostam ou não sabem acompanhar o processo estratégico como um todo e o ganho que havia sido planejado se esvai pelo caminho. Isto porque estratégia é muito mais do que planejamento.
É possível destacar quatro caminhos que garantem uma visão estratégica mais ampla e inclusiva. E o melhor, culmina na inovação, que é a melhor forma de perpetuar um negócio.
Primeiro caminho
A liderança estratégica começa pelo posicionamento. Quando a empresa possui um bom posicionamento e conhece de forma precisa seus pontos fracos e fortes, as coisas se tornam mais claras e o espaço para viver de aparências é reduzido. Organizações que se posicionam corretamente estimulam a autenticidade e deixam explícitos os líderes que atuam com efetividade e aqueles que se escondem atrás de relacionamentos e de favores.
O posicionamento estimula a coerência nas decisões e incentiva a responsabilidade. Os líderes educadores que utilizam o posicionamento são disciplinados e evitam os atalhos obscuros, promovendo uma comunicação aberta e ampla.
Armadilhas do primeiro caminho
Uma organização que não se posiciona corretamente cria a sua primeira armadilha, a soberba. Ela faz com que as pessoas se achem autossuficientes e desestimula o trabalho em equipe. Empresas que foram líderes de mercado por muito tempo costumam ser possuídas pela soberba. Enquanto isso, seus concorrentes trabalham em silêncio e quando menos se espera ganham o seu mercado.
Quando organizações se preocupam em analisar cenários, conjuntura e tendências percebem que não são tão poderosas como imaginam e descem do “salto”. Ambientes assoberbados são contaminados por relações artificiais, que não se sustentam com o tempo, mas como o processo de deterioração é muitas vezes lento e definitivo, não há muito poder de reação para organizações que se consideram mais do que realmente são.
Os clientes também percebem quando seu fornecedor está tomado pela soberba e isto faz com que tomem a decisão de abandoná-lo, na maioria das vezes. Resta para a empresa, culpar a área de vendas e marketing, que não entendem as necessidades dos seus clientes, segundo a visão da alta direção. Isto é o resultado de um mau posicionamento.
Segundo Caminho
O segundo caminho da liderança estratégica é a gestão de pessoas. Após a organização construir seu posicionamento, deve agora criar sistemas de Recursos Humanos que façam as pessoas serem reconhecidas pelo seu potencial e entrega, por meio de um eficaz processo de avaliação de desempenho e remuneração compatível com cada grupo de profissional, alinhada ao mercado.
A liderança estratégica irá buscar formas de atrair bons profissionais e manter um ambiente interno adequado ao alto desempenho de forma multivariada. Isto é, não basta focar na tarefa, mas olhar o processo como um todo, colocando a equipe a serviço dos diversos stakeholders, acompanhando e eliminando dúvidas.
O líder estratégico que acredita na gestão de pessoas incentiva o reconhecimento e a confiança, provendo a transparência e o incentivo da verdade. Ele se envolve com o grupo e cria os vínculos necessários ao bom desempenho da equipe.
Armadilhas do segundo caminho
A armadilha da falta de uma boa gestão de pessoas são os feudos. Empresas em que a comunicação e os papéis não são claros e os mecanismos de premiação não estimulam a meritocracia incentivam a criação de feudos, que é uma forma de sobrevivência de pessoas em organizações baseadas apenas em relacionamento e não em potencial ou desempenho.
Quando os feudos estão instalados é muito difícil desfazê-los, pois existem de forma velada e ninguém reconhece a sua existência. Programas para team building são uma tentativa utilizada pelas empresas e muitas vezes são gastos muitos recursos com resultados pífios. Isto ocorre porque os contratantes não percebem as causas enterradas nos feudos. É muito mais profundo do que simplesmente passar um final de semana juntos. Acabar com feudos dá trabalho e remove os interesses obscuros.
Terceiro Caminho
O terceiro caminho é a aprendizagem. Empresas abertas à ela conseguem ampliar seus horizontes e buscar soluções de longo prazo. Uma organização que aprende de forma estruturada cria em seus líderes uma visão inclusiva e diversa e isto faz com que todos os stakeholders sejam contemplados nas soluções desenvolvidas.
As empresas com visão de curto prazo serão predatórias e muitas vezes inviabilizarão a vida do próprio cliente. O aprendizado traz o respeito ao cliente e aos demais parceiros, pelo conhecimento da sua importância e suas necessidades. A empresa aprende a fugir do amadorismo e começa a estruturar melhor suas soluções, sendo mais rigorosa com suas ofertas. A aprendizagem contínua leva ao profissionalismo.
Os líderes estratégicos promovem a gestão do conhecimento e aceita os erros, mas incentiva as melhores práticas de gestão. Os papéis também são bem definidos e os procedimentos associados irão facilitar o seu desempenho.
Armadilhas do terceiro caminho
Empresas pouco propensas a aprender caem na armadilha do foco no curto prazo. Este é um dos maiores motivos para o desaparecimento ou perda de competitividade de organizações, pois ao focar no curto prazo, agem como predadoras e exploradoras do ambiente de negócios.
A busca pelo relacionamento com os clientes e sustentabilidade representam a tentativa de fugir do foco apenas no curto prazo para que seja possível a criação de relações duradouras. Quando uma organização coloca sua força de vendas para ganhar o máximo no curto prazo, pode conseguir bons resultados em um primeiro momento, mas, muitas vezes, as consequências são irreversíveis para a sua imagem e seu futuro no mercado.
Quarto Caminho
O quarto e último caminho é a inovação, porque somente podem criar novas e vencedoras soluções, as empresas realmente estratégicas. Ou seja, aquelas que trilharam todos os caminhos necessários à sua saúde. A inovação faz com que as pessoas confiem em si mesmas e nas demais e acelera o ritmo empresarial. Empresas inovadoras possuem processos simples e pessoas com o poder e autoridade necessários ao lançamento de novas soluções que as diferenciam da concorrência.
Empresas burocráticas não estimulam a geração de ideias. Tudo fica emperrado e depois de frustradas tentativas de contribuir, os colaboradores desistem e os feudos se instalam ainda mais. Vida é fluxo e sem este movimento o novo não terá espaço para nascer. O processo começa com um bom posicionamento, gestão de pessoas, aprendizagem e o resultado é uma empresa preparada para inovar, se destacar e gerar valor aos stakeholders.
Os líderes estratégicos compartilham seus objetivos e metas, querem a autenticidade e promovem a criatividade, que é obtida pelos talentos gerados por uma boa gestão de pessoas. As pessoas inovadoras enxergam oportunidades onde os outros percebem apenas obstáculos.
Armadilhas do quarto caminho
A burocracia é a armadilha das empresas que não conseguem inovar. Ela é o resultado de uma organização mal posicionada, cheia de feudos e com visão de curto prazo. Tudo será uma ameaça para uma empresa com estes atributos e a empurra para a burocracia, que é a forma encontrada para que ela se garanta por falta de um posicionamento correto.
A burocracia bloqueia o fluxo das coisas na organização. Nada ocorre com agilidade, muitas pessoas precisam ser consultadas, porque ninguém quer assumir riscos. Empresas burocráticas não conseguem inovar, pois a criatividade e o empreendedorismo são substituídos por ambientes focados em relações obscuras, pessoas assoberbadas e visão estreita.
Autor: Fábio Cássio Costa Moraes